O representante da Via Campesina e do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio de Janeiro, Marcelo Durão, defendeu
que os problemas ecológicos, do ambiente, do trabalho e das cidades não são
resolvidos pelo mercado ou pelas “falsas soluções” que ele apresenta.
Durão explicou que os movimentos sociais do campo
pretendem fazer na Cúpula dos Povos, que ocorrerá paralelamente à Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho
próximo, no Rio, uma reflexão sobre as causas estruturais do sistema econômico
que vigora hoje no mundo e como elas afetam os territórios, tanto nas cidades
quanto no campo.
Durante a cúpula, que se estenderá de 15 a 23 de
junho, as diversas organizações não governamentais (ONGs) brasileiras e
internacionais planejam apresentar experiências concretas que os povos vêm
fazendo em todo o mundo. “E que, para nós, são as verdadeiras soluções de
preservação ambiental e de respeito (ao meio ambiente), que socializam a
riqueza e fazem uma lógica totalmente diferente da que está sendo proposta pela
Rio+20, que pretende resolver os problemas pelo mercado”.
Durão assegurou que a contribuição das ONGs que
participarão da Cúpula dos Povos será de crítica na Rio+20. “Vamos tentar
propor outro paradigma, outra sociedade e outra visão para a solução dos
problemas ambientais e de acúmulo e concentração de riqueza”. Ele não tem
dúvida de que existem soluções diferentes e que não passam, necessariamente,
pela elaboração de grandes acordos, como os que estão sendo feitos entre chefes
de Estado e grandes corporações.
A ideia é mostrar soluções que envolvam a sociedade
civil na prática. Instituições do Cerrado brasileiro, por exemplo, querem
demonstrar a experiência das cisternas comunitárias; os agricultores familiares
pretendem apresentar experiências da agroecologia, que se contrapõem ao
agronegócio. “Não só ficar na crítica, mas mostrar que existem soluções
concretas para os problemas que estão aí”.
Membro do Comitê Facilitador da Sociedade Civil na
Rio+20, pelo lado brasileiro, Durão revelou que alguns temas já definidos para
debates coletivos na Cúpula dos Povos são direitos humanos e territoriais
(campo e cidade); bens comuns; agricultura e soberania alimentar; soberania
energética e indústria; valores e paradigmas.
A Cúpula dos Povos pretende lançar um documento
geral, além dos temáticos, ao fim do evento. “Os objetivos nossos são tentar
uma agenda global unificada, tanto de luta, de mobilização, quanto de denúncia
das falsas soluções, e uma rearticulação global, nos moldes do que a gente
conseguiu fazer na Área de Livre Comércio das Américas (Alca)” – tratado de
comércio proposto pelos Estados Unidos em 1994, com o objetivo de eliminar
barreiras alfandegárias entre os 34 países da região.
Marcelo Durão disse ainda que a proposta agora é
articular as organizações, com a finalidade de pensar questões maiores que
ultrapassem a cúpula. “A Cúpula dos Povos é um processo dentro de tudo que a
gente tem feito. Existe a clara noção de que o evento não se encerrará em si
mesmo, mas terá continuidade”.
Para a Via Campesina, a expectativa é pessimista em
relação à Rio+20. Durão apontou as grandes corporações como os principais
vilões da crise financeira, iniciada em 2008, e da atual crise econômica que se
expande na Europa, na medida em que conseguem colocar seus interesses acima
(dos interesses) do Estado. Para ele, as estratégias formuladas têm como única
meta centralizar e acumular riqueza nas grandes corporações. Essas estratégias,
acrescentou, não visam, de fato, a solucionar problemas como os que estão
ocorrendo no mundo, entre eles as mudanças das leis trabalhista e ambiental.
“A mudança do Código Florestal vai possibilitar o
desmatamento e a entrada do agronegócio em 8 mil hectares que ainda estão
intocáveis”, disse. Ele classificou como cilada um dos temas que serão
abordados na Rio+20, que é a economia verde. “Você tenta travestir de verde o
mau e velho capitalismo”.
Segundo Durão, trata-se das mesmas estratégias do
passado, “só que, agora, com foco ambiental e climático”. No fundo, permanecem
as metas de descentralização e acúmulo de riquezas, às quais se somam elementos
voltados à sustentabilidade, como fontes renováveis de energia, serviços
ambientais, sequestro de carbono, declarou. “Essas estratégias que permeiam as
empresas, como educação ambiental para uma comunidade que está sendo atingida
por mineração, por exemplo, não solucionam o problema ambiental”.
Na visão de Durão, a Rio+20 pode ser um grande sucesso “para as grandes corporações e as
empresas”. Ele considera que a grande diferença entre a Rio 92 (Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em 1992, também no Rio de
Janeiro) e a Rio+20 é que, na primeira, o diálogo e os questionamentos eram
feitos diretamente entre os chefes de Estado, nações e a sociedade. “A
sociedade está de fora. Hoje, o diálogo é entre chefes de Estado e nações com
grandes corporações”.
Com informações da Agência Brasil
Fonte: Sul21